sexta-feira, 29 de agosto de 2008

imo

após desligar a tevê, percebeu, devido à iluminação natural, seu reflexo na tela agora amornando, e notou quão pouco costumava observar-se fosse em espelhos, fosse no deformado convexo da maçaneta do banheiro do trabalho, e achou até engraçado, pois a última vez que vira-se com atenção foi aquele dia lá há muito tempo quando ganhara um prêmio meio bobo em uma festa junina escolar, lá idos mais de quinze anos. agora, de ressaca e sem mais vontade de receber qualquer informação de qualquer fonte que fosse pelo menos por enquanto, percebeu pouca ou nenhuma alteração em seu rosto, feições, traços e digressões afins. ergue um pouco só uma das sobrancelhas, esboçou um meio sorriso com o mesmo lado do rosto e viu que sim, havia algua mudança. menos mal, agora poderia continuar curtindo a ressaca meio morto ali no sofá, era só desviar o rosto da tela desligada e pronto. porém, algo não deixava com que fizesse isso. podia muito bem ser a modorra do trago fenomenal da tarde/noite/madrugada/e um pouquinho da manhã do dia, mas o fato era, não conseguia deixar de se ver ali, anos passados sem muito indício. esquisito, achou que seria diferente, tudo indicava que seria, mas não era tão ruim assim. tá, um pouco de cabelo que não tinha mais, a barba cerrada e um pouco de olheiras, mas até aí tudo bem, afinal misturar campari com chope escuro dá no mínimo alguma coisa de olheiras.

então percebeu a desgraça.

não estivera vendo seu reflexo na tela desligada, mas sim uma foto sua de mais ou menos quinze anos que ficava na estanta ao lado da tevê, o tempo todo. evidente que as alterações de expressão que notara antes não passavam de uma de delirium tremens atenuada ou não, dado que a foto continuava ali fitando com a sobrancelha levantada e um meio sorriso esboçado com o mesmo lado do rosto.

na dúvida, evitou os espelhos e reflexos pelo resto da semana, mesmo do mês.

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