sexta-feira, 29 de agosto de 2008

náitchi

achando nenhuma graça na situação, preferiu ficar ali no canto, pé apoiado na parede, cigarro no canto da boca, copo bem cheio na mão, escondido atrás de um casal que precisava urgentemente de um quarto, logo, nenhuma atenção despertada para si, incógnito, quase ensurdecendo devido ao som altíssimo do local, quase cego de tanta luz colorida, quase bêbado de tanto tentar, sem sucesso. ato contínuo, uma presença ao seu lado. mulher, sim. boa olhar, olhar de boazinha.

oi! tá gostando daqui?

da parede? é confortável, além do mais, se eu ponho o pé na parede de casa depois sou eu que tenho de limpar.

hahahaha. engraçado!

ahn, não achei...

consegue um cigarro?

ah, oquei. - interesseira ela, tudo bem, um cigarro não ia fazer falta. no bolso da calça, ops, só tinha mais três cigarros e dois amigos pra esperar o tempo passar, o tempo deles, que já tinham se arranjado na festa e rachariam o táxi. - é que eu tô meio mal.

mal? bebeu demais?

o quê?

bebeu! demais! tá mal?

ah, isso, não, tô mal de cigarro. só três...

bebeu três e tá mal? tadinho... não quer caminhar um pouco, sair daí pra ver se melhora?

não, eu tô com pouco cigarro! três cigarros!

eu costumo tomar vodca pra passar o pigarro, mas se tu já tá meio mal...

não, não acho que polka seja normal!

original? sabe que eu não gosto muito dessa? prefiro brahma extra.

drama, eu? não é, é que o cigarro aqui custa quase dez pila a carteira! acho um rou-bo!

nah, não fica.

fica o quê?

com cara de bobo quando bebe. acho até bonitinho.

anos depois, quando, num sábado à noite comendo pizza e assistindo a uma comédia romântica no vhs, lembrava desde quando a havia conhecido, e ficava imaginando por que motivo às vezes ela simplesmente parecia não entender o que lhe falava. perguntou se ela queria mais calabresa, e ela respondeu que preferia calabresa à portuguesa, como ele bem sabia.

deu-lhe uma fatia da califórnia.

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